Por Leonardo Silveira
CEO Florence Health. Mestre em Eng. Eletrônica e de Computação (ITA)
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No início de 2023, eu e minha agora cofundadora fazíamos brainstorms quase diários de ideias de negócios que poderíamos iniciar. Nós viemos de backgrounds bastante distintos, temos um conjunto diverso de habilidades: sou mestre em Engenharia Eletrônica e de Computação, e ela mestranda em Enfermagem. Desse modo, nossas ideias convergiram para negócios usando IA na saúde, e assim desenhamos o que se tornou a Florence Health.
A startup nasceu para enfrentar o problema da alta prevalência de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes tipo 2, entre outras, ligadas a escolhas, hábitos e estilo de vida não saudáveis. Nossa solução entrega valor ao usuário por meio de ferramentas de acompanhamento de alimentação, exercício físico, rede social para usuários e plataforma de gestão de dados de saúde e tomada de medicamentos. O público-alvo, porém, não se limita a doentes crônicos, mas engloba todas as pessoas que desejam ferramentas que facilitem o alcance de uma vida mais saudável.
A missão da Florence é ajudar as pessoas a cuidarem melhor de sua saúde. Nossa visão é que ela será uma das startups que irá influenciar as práticas de saúde no país, aumentando o foco na educação, prevenção e promoção de saúde e, assim, gerando uma melhor qualidade de vida para a população.
Porém, a ideia inicial da Florence era bastante diferente. Devido aos muitos feedbacks, aos processos de experimentação, avaliações e reavaliações efetuadas ao longo do caminho, a ideia se transformou para a Florence de hoje.
O início dessa trajetória começou em São Paulo, onde o primeiro passo foi a participação em uma imersão no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O objetivo do programa era auxiliar startups com base científica na fase de ideação, com workshops sobre temas relevantes nessa etapa do negócio: identificação e definição do problema, product market fit, fontes de financiamentos e investimentos, como fazer um pitch, assim como rodadas de conversas com mentores da instituição. Essa experiência foi muito valiosa e abriu nossa visão para tudo que estava pela frente.
Após isso, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) abriu pela primeira vez um programa de pré-incubação, para o qual fomos selecionados. Esse programa também foi fundamental, sendo uma jornada de maior intensidade e longo prazo nos temas que havíamos visto no IPT. Durante esse período, conversamos com todas as pessoas que estavam dispostas a nos ouvir falar da Florence e ajustamos nosso plano de negócios inúmeras vezes: desenhamos protótipos e avançamos um passo por vez em direção à criação de um negócio sustentável. Ao final, chegamos à ideia da Florence que temos hoje e fomos selecionados como a startup destaque do programa.
Finalmente, neste ano, entramos no programa de incubação do HCPA e estamos trabalhando para construir e entregar a Florence à comunidade. Ela já está disponível para uso (www.florencehealth.com.br), recebendo atualizações e novos recursos quase diariamente. Apesar de nossos avanços, estamos há pouco mais de um ano desenvolvendo nossa solução e ainda temos muitos desafios a enfrentar.
Pela minha experiência e convívio com outros empreendedores, o maior obstáculo para uma startup é desenvolver um produto para o qual haja um mercado consumidor, um produto que agregue valor à vida das pessoas, o que é conhecido como product market fit. O conceito é simples, porém esse é o principal motivo pelo qual startups fracassam. Me parece haver apenas uma solução para isso: fazer o desenvolvimento rápido de um produto (o mínimo produto viável, ou MVP) e ir para o mercado, oferecendo sua solução para pessoas; com base no uso do produto pelos potenciais clientes, iterar e melhorar a solução. Como dito de maneira brilhante por Clayton M. Christensen em seu livro O Dilema da Inovação: “não é perguntando para as pessoas o que elas querem que você irá obter a resposta, mas sim observando o que elas fazem e como elas usam o seu produto”.
Tendo em vista o início de nossa trajetória, penso que o empreendedorismo talvez seja a trajetória de carreira mais difícil e incerta, possivelmente com menos frutos no curto prazo. Em primeiro lugar, é necessário coragem para escolhê-lo. Depois, para ter sucesso, é necessário mais que tudo persistência, para não desistir nas inúmeras vezes em que desistir surja como uma opção atraente. Apesar disso, acredito que o empreendedorismo seja também a principal força de transformação da sociedade para melhor. A certeza de que o que você está ajudando a construir trará um impacto positivo, melhorará a vida das pessoas, deve ser a convicção necessária para garantir que você está no caminho certo. E essa é a certeza que temos com Florence.